Page 118 - Património Geomorfológico e Geoconservação
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ATAS / PROCEEDINGS I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO
exercem uma forte influência sobre os factores edafoclimáticos. A altitude, ao interferir
no comportamento da temperatura, condiciona o incipiente desenvolvimento dos solos
e, consequentemente, as características das comunidades vegetais. Predominam os
urzais-tojais húmidos, as turfeiras, os matos húmidos e os cervunais. A floresta ocupa os
limites das escassas parcelas agrícolas situadas nas áreas de fundo de vale,
predominantemente lameiros.
Para além de condicionar a aptidão produtiva, o planalto surge também como
área privilegiada de implementação de monumentos megalíticos que atestam a
antiguidade da ocupação humana, a qual remonta ao Neolítico. Segundo Jorge (1997):
“As mamoas formam conjuntos de 3 a 9 unidades, preferencialmente localizados nas
chãs do planalto. A maior parte destes conjuntos encontra-se em aparente relação com
um monumento isolado no alto do monte mais próximo. São poucas as mamoas que se
localizam nas vertentes ou no fundo das corgas. O material usado na construção destes
túmulos foi o granito, que constitui o substracto de uma larga faixa do planalto de
Castro Laboreiro.” Constata-se no excerto transcrito a importância dos elementos
geomorfológicos na construção de um espaço sagrado. Note-se que no Neolítico tardio
(IV milénio a.C -III milénio a.C.), os planaltos graníticos são as áreas preferencialmente
escolhidas para o desenvolvimento da agricultura. Persistem ainda as brandas e
inverneiras, abrigos dos pastores que praticavam a transumância.
Conclui-se que à geoforma planalto se associa um valor ambiental, um recurso
económico, associado aos sistemas agro-pastoris de montanha, uma leitura histórica,
determinada por formas específicas de presença antrópica no espaço e, por fim, um
significado simbólico, em virtude da sacralização do território pela cultura megalítica.
O alto vale do rio Peneda apresenta um vigoroso encaixe tectónico,
condicionado por uma importante falha de direção NNW-SSE aproveitada pelo curso de
água, que se traduz numa forte expressão morfológica e paisagística. A evolução deste
vale não ocorreu apenas em resultado da dinâmica fluvial. A ocupação do vale por um
glaciar (COUDÉ-GAUSSEN, 1981) é comprovada pelos indícios de moreiras laterais e de
fundo de vale. Identificam-se, igualmente, depósitos de vertente associados a processos
periglaciares. Ao nível do património geomorfológico realça-se ainda o vale tectónico
do rio Peneda e o batólito granítico da Peneda.
ISBN: 978-989-96462-5-4 108