Page 40 - Património Geomorfológico e Geoconservação
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ATAS / PROCEEDINGS I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO
Estes factos estão marcados ainda hoje na paisagem cársica de Sicó, que
corresponde basicamente à paisagem de um carso coberto durante quase todo o
Cretácico e o Cenozoico e hoje parcialmente exumado. Esta exumação é
particularmente sensível nos sectores mais elevados e mais expostos do Maciço (ex:
Serras do Circo, Janeanes, Rabaçal, Sicó, Ariques e Alvaiázere, bem como todo o sector
ocidental do Planalto de Degracias - Alvorge), onde a rocha nua impera, a lapiezação é
evidente e as formas cársicas de superfície e de profundidade são mais abundantes. Pelo
contrário em grande parte do Planalto de Degracias-Alvorge e noutros setores menos
elevados a abundância de coberturas areno-conglomeráticas e pelíticas marca ainda uma
paisagem de caraterísticas fluviais (cujos vales estão hoje secos), a que algumas
pequenas dolinas em concha e mesmo algumas uvalas, muitas vezes ligadas a uma
evolução criptocársica (sensu NICOD, 1994) e hoje facilmente reconhecíveis pela
presença de pequenas lagoas, dão o mote cársico.
Esta diferenciação morfológica traduz-se também na ocupação vegetal do solo,
arbórea e florestal neste último caso, bem como no arranjo rural da terra, dando origem
a paisagens diferenciadas, mais marcadamente cársicas, no primeiro caso.
2. O PATRIMÓNIO CÁRSICO DO MACIÇO DE SICÓ
Para além do conjunto de formas e depósitos que materializam os testemunhos
da evolução cársica do Maciço de Sicó, outros elementos ligados à biodiversidade, ao
registo arqueológico e à recente utilização de um solo magro e quase estéril, aos valores
culturais e religiosos das populações, proporcionam um conjunto diversificado de
elementos patrimoniais que pela sua originalidade, singularidade, raridade,
representatividade, valor estético, grandiosidade paisagística e espetacularidade cénica,
merecem ser inventariados, estudados e classificados, para melhor serem preservados e
colocados ao serviço das populações, seja através da Educação Ambiental, seja para
atividades de lazer, desporto e geoturismo (GREY, 2004; BRILHA, 2005).
Um dos primeiros problemas que se coloca na inventariação e no consequente
estudo dos elementos patrimoniais é o problema da escala a que estes se nos apresentam
ou a que os queremos considerar. Seguindo de perto CARVALHO (1999) e um trabalho
anterior sobre o tema (CUNHA e VIEIRA, 2004; VIEIRA e CUNHA, 2006) são considerados
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ISBN: 978-989-96462-5-4