Page 47 - Património Geomorfológico e Geoconservação
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ATAS / PROCEEDINGS I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO
O ano de 2006 marca fortemente a discussão desta temática no Brasil, seja pela
chancela da RGG ao primeiro geoparque brasileiro (sendo também o primeiro
geoparque das Américas), o Geoparque Araripe, seja pela institucionalização deste
debate por meio da criação do projeto Geoparques do Brasil, proposto pelo Serviço
Geológico do Brasil (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais- CPRM), tendo por
objetivo a identificação, levantamento, descrição, diagnóstico e ampla divulgação de
áreas com potencial para futuros geoparques no território nacional, bem como o
inventário e quantificação de geossítios (NASCIMENTO et al., 2008).
Partindo da experiência acumulada pela SIGEP (Comissão Brasileira de Sítios
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Geológicos e Paleobiológicos) desde a sua criação em 1997, o projeto Geoparques do
Brasil definiu inicialmente uma lista de 28 territórios com potencial para a elaboração
de projetos de Geoparque (fig. 1), sendo que destes, 19 já foram elaborados e
publicados (SCHOBBENHAUS e SILVA, 2012).
Uma avaliação inicial dos projetos de geoparques publicados pela CPRM,
todavia, demonstra que os mesmos apresentam características que os distanciam da
filosofia presente na estratégia global de Geoparques da UNESCO, marcadamente o
baixo envolvimento comunitário e a pouca valorização dos aspectos culturais ligados à
geodiversidade nestas áreas, os quais são traduzidos em paisagens culturais de forte
significado simbólico e onde os aspectos geomorfológicos desempenham um papel
significativo.
Tais negligências na elaboração dos projetos resultam em enorme dificuldade
posterior para implementação destas propostas enquanto instrumentos de valorização
das iniciativas locais e de potencialização do desenvolvimento endógeno, já que estes
processos com estruturas notadamente top-down dificilmente são capazes de traduzir a
verdadeira identidade destes territórios, tampouco de mobilizar os seus atores. Estas
questões serão melhor detalhadas na sequência, tendo por base a análise de dois projetos
concretos inventariados no estado do Rio Grande do Sul: o Geoparque Quarta Colônia e
o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul.
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A SIGEP foi criada dentro do Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM, na expectativa de
oferecer uma resposta às demandas de inventariação do patrimônio geológico mundial propostas pela
IUGS (União Internacional das Ciências Geológicas) no âmbito do projeto Global Geosites, de 1996.
Desde então, a SIGEP já publicou a inventariação de 98 dos 206 geossítios cadastrados em todo o
território nacional até o momento (SCHOBBENHAUS et al., 2002; WINGE et al., 2009).
ISBN: 978-989-96462-5-4 37