Page 69 - Património Geomorfológico e Geoconservação
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ATAS / PROCEEDINGS I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO
configuração na paisagem é o corte da autoestrada A1 (km20 - Geosítio n.º 19),
próximo da portagem de Torres Novas.
No reverso da escarpa, e nitidamente condicionadas pelos aspetos estruturais,
desenvolvem-se diversas formas cársicas e flúviocársicas, tanto de superfície como de
profundidade, resultantes da forte dissolução dos calcários. Das formas de superfície
com maior interesse geomorfológico destacam-se duas áreas de megalapiás com formas
pedunculadas e em dorso, com 2 a 3m de altura, no Chão da Serra e no Pedrógão; duas
grandes depressões fechadas, a do Vale da Serra e o do Vale Florido/Vale da Trave
definidas como os poljas incipentes (MARTINS, 1949); a pequena fórnia de Fungalvaz; o
canhão da Ribeira de Amiais e algumas pequenas dolinas. Quanto às formas cársicas de
profundidade, estão inventariadas ao longo da escarpa cerca de uma dezena de
cavidades, entre lapas e algares, de diversas dimensões e profundidades, onde se
processa o escoamento das águas do maciço num extenso e complexo sistema
subterrâneo de drenagem. Aqui encontramos, o complexo de grutas que representa o
fenómeno fluviocársico mais interessante de Portugal, onde em cerca de 300m, a
Ribeira de Amiais e a nascente do Alviela dão origem a um sistema de perdas,
ressurgências e exsurgências de elevado valor científico e didático-pedagógico
(Geosítio 28); e o sistema cársico da Nascente do Almonda (geosítio 15), considerado
como sendo o maior sistema cársico subterrâneo conhecido no território português, com
cerca de 14km de desenvolvimento, e um dos melhores exemplos do património
espeleológico local e nacional, quer pela sua extensão, quer pela diversidade de
concreções de rara beleza que contém.
Um outro aspeto que confere características originais à escarpa prende-se com o
facto de este acidente funcionar como zona de barreira de um dos maiores – se não o
maior – aquífero cársico português (Maciço Calcário Estremenho), de onde brotam as
importantes exsurgências cársicas dos Olhos de Água do Alviela, do Almonda e dos
Olhos de Maria Paula (Vila Moreira), que têm ligação provada aos sumidouros do Polje
de Mira-Minde (CRISPIM, 1986). Em 2006, estas nascentes foram consideradas Zonas
Húmidas de importância internacional no âmbito da Convenção de Ramsar.
Por outro lado, as características naturais da região permitem a existência de
excecionais miradouros geomorfológicos que proporcionam uma fácil interpretação da
paisagem. Dos 12 locais inventariados, destacamos o Miradouro da Pedreira do
ISBN: 978-989-96462-5-4 59