Page 79 - Património Geomorfológico e Geoconservação
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ATAS / PROCEEDINGS I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO




socioambiental mais ativa, dinâmica e participativa. Neste âmbito, o principal objetivo
dessa pesquisa é identificar como os produtores rurais sertanejos entendem, classificam

e manejam o relevo e os processos geomorfológicos pautados sob modelos construídos
culturalmente/empiricamente.

Este trabalho foi realizado no Nordeste do Brasil, mais especificamente no

estado do Ceará, no Distrito de Ponta da Serra localizado no município de Crato, porção
sul do estado. Em meio a um cenário semiárido, os conhecimentos locais do agricultor

sertanejo contribuíram positivamente para essa pesquisa, mostrando a riqueza desses
saberes que foram repassados através de gerações e aperfeiçoados pela vivencia com o

lugar.




2. A ETNOGEOMORFOLOGIA NA PAUTA DA GEOCONSERVAÇÃO E DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL

A etnogeomorfologia como um novo campo de conhecimento, fica na interface

entre ciências naturais e sociais, sendo uma das abordagens etnoecológicas e uma

espécie de co-irmã da etnopedologia. Desta forma, ela visa resgatar os conhecimentos e
práticas de uso e manejo que as comunidades tradicionais exercem sobre o relevo e os

processos morfogenéticos atuantes sobre ele. As taxonomias e classificações locais são
muito importantes para os estudos etnogeomorfológicos revelando os valores da cultura

local, construídos através de gerações e experiências cotidianas com o ambiente.

(RIBEIRO, 2012).
As comunidades tradicionais a qual a etnogeomorfologia se debruça, são

detentoras de uma gama de conhecimentos locais ou tradicionais que se definem “como
o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural, sobrenatural,

transmitido oralmente de geração em geração” (DIEGUES, 2000: 30).

Deste modo, a etnogeomorfologia resgata os conhecimentos produzidos
culturalmente, pois, a cultura reflete um processo de acumulação de conhecimentos e

experiências históricas provindas de gerações passadas que foram sendo transmitidas ao
longo do tempo, e permanecem vivas até hoje, apesar de sofrerem alterações diversas em

virtude das influencias do “mundo moderno” sobre elas (LARAIA, 2009).
Os modelos desenvolvidos pelas comunidades tradicionais podem contribuir

para uma relação mais estável e equilibrada entre homem e natureza. Isso só é possível




ISBN: 978-989-96462-5-4
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