Page 80 - Património Geomorfológico e Geoconservação
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ATAS / PROCEEDINGS I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO




porque, como bem afirmou ESCOBAR (2005), “os modelos locais da natureza não
dependem da dicotomia natureza/ sociedade”, e desta forma o homem não é visto como

um ser soberano, ao contrário, se estabelece uma relação de reciprocidade entre ambos. No
entanto, estes modelos estão inseridos dentro da lógica de um mundo regido por leis

capitalistas e globalizantes. Isso torna ainda mais necessária a busca pela sobrevivência

dessa diversidade cultural das comunidades locais que está ameaçada pela
mundialização de modelos culturais dominantes (DIEGUES, 2000).

O estudo do conhecimento etnogeomorfológico com comunidades tradicionais
sertanejas se torna muito importante para o Nordeste, pois este está localizado no

domínio do semiárido brasileiro. Isso significa dizer que, além de ser uma região muito
povoada - o que implica numa maior intervenção e consequentemente pressão antrópica

sobre esse espaço -, ela possui características naturais que colaboram para que seja

muito susceptível a processos de degradação. Isso ocorre por motivos como o alto poder
erosivo das chuvas, que são temporal e espacialmente concentradas, os solos rasos e a

cobertura vegetal esparsa. (RIBEIRO et. al., 2010).

RIBEIRO (2012) realizou um estudo etnogeomorfológico na Sub-bacia do
Salgado, na porção sul do estado do Ceará, e afirma que essa etnociência volta-se

principalmente para a gestão e uso do solo. Neste âmbito, TOLEDO (2001: 13) destaca a
importância de parcerias no manejo dos recursos naturais:


Da mesma forma, é importante se estabelecer parcerias de manejo de recursos
entre as comunidades locais e o Estado e outras instituições da sociedade para
manter a biodiversidade. Proteção local em conjunto com instituições
governamentais e não governamentais é talvez o meio mais seguro para
garantir conservação efetiva das paisagens, habitats e recursos genéticos a
nível mundial, em particular em países tropicais.

Defendemos a necessidade da colaboração entre conhecimento local e cientifico,

e entre atores locais e entidades governamentais. O resultado poderá ser o
estabelecimento de uma gestão mais participativa com a contribuição das comunidades

tradicionais nas intervenções governamentais locais, no desenvolvimento local mais
sustentável e na conservação ambiental mais ativa.










ISBN: 978-989-96462-5-4
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