Page 152 - Património Geomorfológico e Geoconservação
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ATAS / PROCEEDINGS I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO
cobertura sedimentar da Orla Meso-Cenozóica Ocidental. Neste sentido, apraz observar
que a união destes dois cursos irmãos, ora mansos, ora rebeldes no pico da invernia, tem
por cartão-de-visita os derrames conglomeráticos da mais antiga unidade detrítica do
Mesozoico português – a Formação de Conraria (SOARES et al., 1985, 2012; SOARES e
GOMES, 1987).
O percurso sinuoso do rio Ceira atravessa o Maciço Marginal de Coimbra e
transpõe a faixa de cisalhamento direita de Porto-Coimbra-Tomar (PEREIRA et al.,
2004), penetrando bastante para o interior do Maciço Hespérico. Com efeito, entre Foz
de Arouce e São Frutuoso, o seu curso médio ocupa um vale fluvial estreito e encaixado
em sucessões monótonas de rochas pelíticas e de metagrauvaques deformados,
pertencentes ao Grupo das Beiras (SEQUEIRA e SOUSA, 1991; SOARES et al., 2005,
2007). Da confluência do rio Arouce para montante, o vale fluvial passa a alargar
frequentemente e as vertentes tornam-se mais suaves, encontrando-se espaço para
campos aluvionares aproveitados para culturas agrícolas, numa região em que o plantio
monótono e a monocultura de eucalipto ou de pinheiro são a nota dominante. Esta
transição bem expressa na paisagem, encerra em si o estigma da diversidade geológica
do percurso fluvial, o qual passa a atravessar áreas preenchidas por unidades cretácicas
da bacia continental da Lousã, mas em que os depósitos greso-conglomeráticos,
deixados pelo encaixe fluvial plistocénico, também abundam, com significativa
expressão cartográfica (DAVEAU, 1976; SOARES et al., 1983; DAVEAU et al., 1985/86;
CUNHA, 2002).
Junto a Vila Nova do Ceira o curso do rio estrangula e este corre, ainda que
fugazmente, em garganta apertada, como se o Cabril fosse uma imagem refletida no
espelho de água, das grandes Portas do Ródão que, muitos quilómetros a Sul,
descortinam o Tejo internacional. Os quartzitos, de tipo Armoricano, com as suas
estruturas verticalizadas observadas na Senhora da Candosa e no Cabril do Ceira e as
suas formas de relevo diferencial (REBELO, 1985), produzem muitos exemplos notáveis
de interesse geomorfológico, tonificando as paisagens com o cunho da sua imponência.
As litologias quartzíticas, quando associadas a processos endógenos e exógenos
propiciam, muitas vezes, grande singularidade de formas e de contrastes.
ISBN: 978-989-96462-5-4 142