Page 28 - Património Geomorfológico e Geoconservação
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ATAS / PROCEEDINGS I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO E GEOCONSERVAÇÃO
“Para les contar a vida / saco da mala o bandônio,
A vida de um tal Antônio / Chimango – por sobrenome,
Magro como lobisome, / Mesquinho como o demônio.
Nos cerros de Caçapava / foi que viu a luz do dia,
À hora d’Ave Maria, / de uma tarde meio suja;
Logo cantou a coruja / em honra de quem nascia.
Veio ao mundo tão flaquito, / tão esmirrado e chochinho
Que, ao finado seu padrinho, / disse espantada a comadre:
‘Virgem do céu, Santo Padre! / isto é gente ou passarinho?’ (...)”
Ainda que Borges de Medeiros tenha nascido em uma casa situada no centro da
zona urbana de Caçapava do Sul (Fig. 4, à direita), o verso utilizado por
Juvenal/Barcelos é “Nos cerros de Caçapava / Foi que viu a luz do dia”. Isso demonstra
o quanto a geomorfologia local, caracterizada por cerros destacados, de rochas
resistentes ao intemperismo (granitos, riolitos, arenitos e conglomerados silicificados),
se encontra desde sempre na identificação do município de Caçapava do Sul. A casa
onde o político nasceu ainda existe e constitui ponto turístico local. Essas informações
sobre a obra de Juvenal/Barcelos representam uma interessante integração entre
aspectos culturais e geodiversidade, e poderiam auxiliar na interpretação geopatrimonial
durante programas turísticos ou educativos naquele município. Diversos outros poetas e
escritores regionais utilizaram-se da geodiversidade local como fonte de inspiração para
os seus textos, carecendo ainda esta questão de um levantamento mais profundo e
sistemático.
Figura 4 – À esquerda, fotografia do governador Borges de Medeiros (fonte: Wikimedia commons).
No centro, reprodução da capa da segunda edição de “Antonio Chimango – poemeto campestre”,
com caricatura do governador com bico de ave de rapina (fonte: www.projetopassofundo.com.br).
À direita, a casa de esquina onde nasceu o governador, no centro de Caçapava do Sul.
ISBN: 978-989-96462-5-4 18